A Páscoa Judaica e a Ceia do Senhor Jesus Cristo
Os dois principais propósitos da Páscoa no A.T
A primeira Páscoa, a qual foi realizada no Egito, foi
diferente das demais que foram realizadas posteriormente. A Páscoa realizada no
Egito está relacionada à décima praga; a morte dos primogênitos dos egípcios e
de seus animais e, também com a saída de Israel do Egito (Êx 12). Naquele dia,
cada família fora instruída a imolar um cordeiro, ou cabrito, sem defeitos, e,
aplicar o seu sangue nas ombreiras e na verga da porta de suas casas, como
sinal que lhes asseguraria segurança se ficassem em casa. Contudo, precisavam
obedecer à ordem divina. Portanto, o sangue aspergido nos marcos das portas,
fora efetuada com fé obediente (Êx 12.28; Heb 11.28); essa obediência pela fé,
então resultou na redenção mediante o sangue (Êx 12.7,13). Evidentemente o
evento da Páscoa e do Êxodo, é sem dúvida, a mais linda história de Israel no
A.T. A história de um povo resgatado da escravidão. Temos realmente certeza, de
que se Deus, não houvesse agido e libertado o Seu povo, da escravidão do Egito,
a história de Israel seria outra.
As celebrações anuais da Páscoa
judaica concentravam-se em dois principais propósitos, que são:
1.1) Memorial: - «...Este dia
vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor (Yahweh); nas
vossas gerações e celebrareis por estatuto perpétuo. E acontecerá que, quando
vossos filhos vos disserem: Que culto é este vosso? Então, direis. Este é o
sacrifício da Páscoa de Jeová, que passou as casas dos filhos de Israel no
Egito, quando feriu os egípcios e livrou as vossas casas» (Êx 12.14,26 e 27,
grifo nosso). Uma tão grande Salvação, realizada por Deus em prol de Seu povo,
não poderia jamais cair no esquecimento. Vemos que, os Filhos de Israel foram
instruídos por Deus, a solenizar todos os anos a sua libertação da escravidão
no Egito, bem como, o livramento de seus primogênitos. Todos os anos na Festa
da Páscoa; os filhos de Israel, nas gerações futuras, haveriam de fazer esta
pergunta a seus pais; «Que culto é este?» Com relação ao significado deste
culto, deveriam responder que se tratava do «sacrifício da Páscoa a Jeová» (Êx
12.27). Por conseguinte, era uma festa em torno da redenção de Israel do Egito.
Aliás, solenizada ainda pelos judeus até os dias de hoje.
1.2) Simbolismo Profético: - O
Senhor Jeová, bem que poderia ter determinado a morte dos primogênitos dos
egípcios e, poupado os primogênitos dos filhos de Israel, sem que houvesse a
necessidade de ordenar que cada família escolhesse um cordeiro (ou cabrito), de
um ano de idade, sem defeito, e fosse sacrificado e seu sangue aspergido nos
lugares indicados (na verga e nas ombreiras da porta). Deus poderia ter agido
de outro modo, punindo Faraó, e libertando o Seu povo da escravidão, sem que
fosse necessário sacrificar um inocente animalzinho. Mas, é Ele, quem controla
todas as circunstâncias e, sabe perfeitamente o que faz e o que deve ser feito.
Com todos estes acontecimentos, Yahweh, teve como propósito primordial,
prenunciar a morte de Jesus Cristo; o alvo era ensinar Israel e, colocar em
suas mentes, a salvação pelo «sangue», preparando-os para o advento de Jesus
Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (João 1.29). É
importante sabermos, que o cordeiro morto por cada família israelita, tornou-se
o substituto de seu primogênito, uma vez que a morte não teve poder sobre as
casas que estavam marcadas com sangue. Nisto, os israelitas, então, deveriam
aprender sobre a substituição, isto é, substituir os inocentes pelos culpados.
É notório que no A.T., todos os
sacrifícios de animais exprimiam o princípio, que devia verificar-se em sua
plena realidade na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor Yahweh concedeu
ao povo do A.T., uma prefiguração do sangue derramado por Jesus Cristo, da Sua
morte vicária (em nosso lugar), pelos nossos pecados, da morte do justo pelos
injustos, uma vez por todos. A Epístola aos Hebreus mostra-nos que os
sacrifícios do A.T., eram na melhor das hipóteses, uma resposta incompleta do
problema do pecado (Heb 8; 9; 10.1-15). Cessaram esses sacrifícios, mas ainda
hoje eles nos ajudam a entender o significado da cruz, o significado do
sacrifício de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Relato bíblico sobre a última páscoa e a instituição da Santa Ceia
Durante vários séculos a páscoa judaica
viera apontando para o sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus (João
1.29). Todavia, chegara o tempo do Senhor Jesus, celebrar a Última Páscoa,
juntamente com os seus apóstolos. Este era o momento que Jesus tanto esperava
(Luc 22.15). Foi na noite que precedeu a Sua morte, que Jesus e os Seus
discípulos comeram a Última Páscoa, substituiu pela Sua Ceia e depois foi morto
como o Cordeiro Pascal (Mat 26.17-29; Marc 14.12-26; Luc 22.7-20; João 13 e 14).
Portanto, houve duas ceias; a Ceia da Páscoa e a Ceia do Senhor Jesus. Esta foi
instituída no final daquela. Lucas menciona doiscálices (Luc 22.17-20);
Mateus, Marcos e Lucas mencionam ambas as ceias, João somente cita a Páscoa.
A instituição da Santa Ceia, é
relatada por dois apóstolos que foram testemunhas oculares e participantes
dela, a saber; Mateus e João. Marcos e Lucas, embora não estivessem presentes
na ocasião, suprem alguns pormenores. O apóstolo Paulo, ao dar instruções aos
coríntios, fornece esclarecimento sobre algumas de suas particularidades (1 Cor
11.17-34). Tais fontes nos dizem que, na noite antes da Sua morte, Jesus se
reuniu com os Seus doze apóstolos em um cenáculo mobiliado para celebrar a
Última Páscoa (Mat 26.17-29 e ref.). Com o desejo de cumprir toda a justiça e
honrar a lei cerimonial, que ainda durava, Jesus ordenou tudo o que era
necessário para comer a Última refeição pascal com os Seus discípulos. Tudo foi
feito como Jesus ordenara, e prepararam a Páscoa (Mat 26.17-19). «E, chegada a
tarde, assentou-se à mesa com o doze» (vs.20). O evangelista Lucas relata que
Jesus desejava ansiosamente comer a Última Páscoa com os Seus discípulos. «E
disse-lhes: tenho desejado ansiosamente comer convosco está Páscoa, antes do
meu sofrimento» (Luc 22.15).
Jesus tomou os elementos da Páscoa
e deu uma nova significação. Mateus relata: «Enquanto comiam, Jesus tomou o
pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei,
isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças deu-lho dizendo; bebei
dele todos. Porque isto é o meu sangue do Novo Pacto, que é derramado por
muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não bebereis
deste fruto da vide até àquele dia em que beba de novo convosco no reino de meu
Pai. E tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras» (Mat
26.26-30). A Páscoa judaica encontra seu comprimento e seu fim na, vida, morte
e ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa no A.T. e a Ceia do Senhor Jesus no
N.T., ambas apontam para uma mesma coisa; o Sacrifício de Jesus Cristo! A
primeira estava distante da outra por quase quinze séculos, e tinha um caráter
prospectivo; apontava para a Cruz de Jesus Cristo; a segunda, a Ceia do Senhor
Jesus, também chamada de Santa Ceia, têm um caráter retrospectivo; apontando
também à morte de Jesus Cristo.
A Ceia do Senhor Jesus inicia uma
nova era e aponta para uma obra já consumada. Podemos observar que, «duas
festas uniram-se nesta celebração». No cenáculo deu-se um acontecimento notável:
A Festa Pascal foi solenemente encerrada (Luc 22.16-18), e a Ceia do Senhor
Jesus instituída com uma solenidade ainda mais sublime do que a Páscoa (Luc
22.19-21; 1 Cor 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e começou
outro; Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a consumação da outra. A
Páscoa agora tinha servido seu propósito profético, porque o Cordeiro que o
sacrifício simbolizava, ia ser morto naquele dia. Por isso foi substituída por
uma «nova instituição», apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo,
como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo.
O tempo em
que ocorreu a ultima páscoa
O Dia exato da celebração da Última
Páscoa é um dos assuntos debatidos pelos estudiosos. Diferentes tipos de
interpretações têm sido expostos. Isto é o que veremos abaixo:
Primeira interpretação: Esta interpretação
julga que a ordem de Jesus aos seus discípulos para que fizessem os
preparativos para a Páscoa, sucedeu na «quarta-feira» do 13 de Nisã, e que a
Ceia pascal, foi comida no começo da «quinta-feira» do dia 14 de Nisã; neste
caso colocam a crucificação de Jesus como ocorrida na «quinta-feira 14 de
Nisã», que é incorreto.
Segunda interpretação: Estes com base nos
Evangelhos sinópticos (Mat 26.17; Mc 14.12; Luc 22.7), sustentam que os
preparativos para a Páscoa, foram feitos na tarde da «quinta-feira» do dia 14
de Nisã, e que a Ceia pascal foi comida no começo (na noite) da «sexta-feira do
dia 15 de Nisã». Estes colocam a crucificação de Jesus para esta última data,
que é também incorreto.
Terceira interpretação: Para os que defendem
está interpretação, Jesus enviou dois dos Seus discípulos à procura de um
cenáculo que Ele mesmo indicara, para que assim fizessem os preparativos para a
Páscoa, na «quinta-feira do dia 13 de Nisã» e, que Jesus e os discípulos
comeram a Ceia pascal (na qual em seguida Jesus instituiu a Santa Ceia), na
noite da «sexta-feira do dia 14 de Nisã». De acordo com essa interpretação,
Jesus foi crucificado na hora terceira da «sexta-feira do dia 14 de Nisã».
Destas três interpretações que acabamos
de ver, a «terceira» é a que se harmoniza com o desenrolar dos fatos, desde a
ordem de Jesus para os preparativos para a Páscoa até a Sua crucificação. Para
confirmar esta interpretação, é necessário fazermos algumas objeções, vejamos
em seguida:
De acordo com Mateus, Marcos e Lucas,
Jesus enviou dois de Seus discípulos para que fizessem os preparativos da
Páscoa «No primeiro dia da festa dos pães asmos» [Páscoa], dando a entender ser
o dia 14 de Nisã, sendo assim, era realmente o dia em que eram imolados (entre
as duas as tardes) no Templo os cordeiros pascais. Entretanto, João, sem
mencionar os preparativos (que segundo Lucas foram Pedro e João os dois
discípulos enviados por Jesus para fazerem os preparativos para a Páscoa – Luc
22.8), transmite-nos uma expressão diferente dos sinópticos, quando ao se
referir à Última Páscoa celebrada por Jesus e seus discípulos, prefere em dizer
que ela (Última páscoa) acorreu «antes da festa da Páscoa» (João 13.1).
Realmente o maior desafio consiste em
esclarecer, se a Última Ceia pascal, ocorreu nocomeço do dia 14 ou no começo
do dia 15 de Nisã. O que já podemos afirmar, é que, a crucificação de Jesus,
ocorreu na sexta-feira, e não na quinta-feira, como supõem a primeira
interpretação a qual temos visto acima. Tal fato é confirmado nas palavras
do apóstolo João que diz: «Então os judeus, para que no sábado ficassem os
corpos na cruz, visto como era apreparação» (João 19.31). «...Preparação...»,
no grego parasceve, «...sexta-feira...», no hebraico é erebh shabbath,
isto é, o dia anterior ao sábado.
Depois de confirmado que a crucificação de
Jesus Cristo se deu na manhã da «sexta-feira», assim também fica comprovado que
a Última Ceia pascal ocorreu após o início da «sexta-feira», ou seja, após
o pôr-do-sol da «quinta-feira» (o dia judaico começa às 18h). Sendo assim, os
preparativos da Páscoa foram feitos na tarde da «quinta-feira». Como já sabemos
que a celebração da Última Ceia Pascal se deu na sexta-feira, agora,
precisamos esclarecer, se aquela quinta-feira da Paixão, era dia «13»
ou «14» de Nisã. De modo como já vimos, pelas expressões dos sinópticos (Mat
26.17; Marc 14.12; Luc 22.7), sugerem que aquela «quinta-feira» era «14 de
Nisã» (veja sobre a «segunda interpretação»). E, segundo João era «antes da
Festa da Páscoa» (João 13.1). Portanto, há uma aparente contradição entre os
sinópticos (Mateus, Marcos, Lucas) e João. Pela aparente expressão de linguagem
dos sinópticos, a Última Páscoa ocorreu no dia 15 de Nisã, neste caso indica
que Jesus foi crucificado no dia 15 de Nisã, ou seja, na manhã deste dia.
Todavia, segundo o desenrolar dos fatos, os preparativos para a Páscoa foram
feitos, na quinta-feira do dia «13 de Nisã», e que a Última Ceia
Pascal de Jesus e os seus discípulos, foi realmente comida na noite, ou seja, após
o início da «sexta-feira do dia quatorze de Nisã». Tais fatos são
confirmados pelas seguintes razões:
1. Se realmente aquela sexta-feira fosse
«15 de Nisã», então, seria um dia de feriado religioso. Todos os anos o dia 15
de Nisã era um dia de Santa Convocação (Êx 12.16), isto é, o primeiro dia
da Festa dos Pães Asmos, e, conforme a ordem Divina, neste dia nenhuma obra
podia ser feita, exceto o que diz respeito à comida, isso poderia ser feito
(Vede «Os Dias de Santas Convocações»). Por conseguinte, o dia «15 de Nisã»,
era um dia de repouso igual ao sábado semanal. Diante disso, vamos juntos
raciocinar: Porventura, violaria os judeus um feriado religioso para prender,
julgar, condenar e crucificar Jesus Cristo? Não, jamais fariam isto num feriado
religioso, mesmo em se tratando de um suposto malfeitor (Luc 22.52).
2. Nos tempos de Jesus Cristo, os
cordeiros pascais eram imolados no Templo, em Jerusalém, na tarde do dia
14 de Nisã (Deut 16.5,6). O cordeiro que Jesus e os seus discípulos
comeram por ocasião da Última Páscoa, não foi abatido no Templo, mas sim, no
lugar onde fizeram os preparativos da Páscoa, ou seja, possivelmente no
cenáculo (Luc 22.8-13).
3. Se aquela «quinta-feira» tivesse
sido «14 de Nisã», obviamente, todos os demais judeus também teriam imolado os
cordeiros pascais e não somente os discípulos de Jesus Cristo. Para isso,
teriam também os demais judeus comido a Ceia pascal ao mesmo tempo em que Jesus
e os Seus comeram a Última Ceia Pascal, isto é, na noite da «sexta-feira 15 de
Nisã». Teriam crucificado Jesus na «sexta-feira 15 de Nisã»?
3.1. Não há nenhuma evidência
bíblica que venha a indicar que os judeus tenham celebrado a Páscoa ao mesmo
tempo em que Jesus e os seus discípulos a celebraram-na. Pelo contrário, pela
cronologia dos acontecimentos, fica evidente que Jesus e os Seus discípulos
celebraram a Última Páscoa com um dia de antecedência, ou seja, cerca de
24 horas antes. A Páscoa oficial, isto é, a ceia pascal dos judeus, somente
ocorreu depois do pôr-do-sol da «sexta-feira», precisamente na noite do «sábado»,
quando Jesus já estava na sepultura.
3.2. Outro fato que comprova que
aquela «quinta-feira» não foi «14 de Nisã» (e que na verdade a sexta-feira não
foi «15 de Nisã»), se verifica nas palavras do apóstolo João, quando ao indicar
o tempo do julgamento final de Jesus, disse: «Ora, era a preparação [gr parasceve] da
Páscoa, e cerca da hora sexta...» (João 19.14a). A expressão «...preparação...»,
nesta passagem tem o sentido diferente da expressão «preparação», do versículo
31 deste mesmo capítulo. A expressão «preparação» aqui enfocada, diz respeito
«à véspera da Páscoa», hebraico erebh ha-pesah, e não exatamente o dia
anterior as sábado, conforme João 19.31. Esta passagem (vs.14) indica que era o
momento (na «hora sexta» certamente é a hora romana, às 6h da manhã, pois o dia
romano começava à meia-noite) em que os judeus estavam fazendo os preparativos
para a Páscoa, o que incluía o abate dos cordeiros na tarde daquele dia
(sexta-feira, 14 de Nisã), para que assim fosse comido (ceia pascal), após o
pôr-do-sol, quando se dava início a um novo dia, isto é, o sábado 15 de Nisã
(Mat 27.15; Marc 15.6,42, João 18.39). Neste caso, fica evidente que até o
momento da crucificação de Jesus, os judeus ainda não haviam celebrado a ceia
pascal.
3.3. Jesus não foi crucificado no
dia «15 de Nisã», ou seja, aquela «sexta-feira» não foi 15 de Nisã, como
aparentemente indicam os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Jesus Cristo
celebrou a Última Ceia Pascal com os Seus discípulos na noite da «sexta-feira dia
14 de Nisã», e foi crucificado no mesmo dia, porém, na manhã deste dia, na
«hora terceira» judaica (cerca das 9h). Pois, Jesus expirou na cruz no mesmo
dia (14 de Nisã) em que no Templo eram imolados os cordeiros pascais (isto é,
na hora nona judaica, cerca «das 15 horas» em nosso horário). É bom
termos em mente que, Jesus também cumpriu com perfeição o «fator tempo»
determinado pela Lei Mosaica, como «dia» e «hora». E, este dia era «quatorze
do primeiro mês» do calendário Sagrado judaico, ou seja, 14 de Abibe ou Nisã,
e, esta hora era «às 15 horas» (hora nona). Jesus Cristo é o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo, o antítipo dos cordeiros pascais.
A possível ordem dos
acontecimentos, entre a quinta e a sexta-feira da semana da Paixão
Segue abaixo; a ordem provável dos
acontecimentos entre a «quinta-feira» (13 de Nisã) e a «sexta-feira» (14 de
Nisã) da Semana da Paixão:
No quinto dia semana (13 de Nisã), Jesus
enviou dois de Seus discípulos (Pedro e João) para que fizessem os preparativos
para a Páscoa, num cenáculo que Ele mesmo indicara (Mat 26.14-19). Ao declinar
do dia Jesus seguiu com os Seus discípulos para esse lugar (Marc 14.17). Depois
do pôr-do-sol (início da sexta-feira, 14 de Nisã) assentaram-se juntos (ou
melhor, se inclinaram conforme o costume romano) Jesus e os seus discípulos
para participar da Última Páscoa. No decurso da refeição pascal, Jesus
levantou-se e lavou os pés dos discípulos (João 13.4-20). Em seguida com grande
tristeza, Jesus predisse que um dos doze havia de traí-lo; antes de comer o
cordeiro e após comer um pedaço de pão molhado (na sopa de frutas) que Jesus
lhe dera, Judas Iscariótes se retirou para não mais voltar à presença do
Mestre, senão na hora da traição, no Jardim (João 13.26,27). Depois da celebração
da Ceia Pascal (rito característico do A.T.) pela última vez; então Jesus
instituiu simbolicamente o pão dizendo: «Isto é o meu corpo, que por vós é
dado; fazei isto em memória de mim» (Luc 22.19). «Semelhantemente, depois de
cear tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue,
derramado em favor de vós» (Luc 22.20). Depois de celebrar a Santa Ceia, Jesus
instruiu os Seus discípulos e consolou-os dizendo: «Não se turbe o vosso
coração...» (João 14.1). Jesus Intercedeu por Si mesmo e pelos Seus discípulos,
com uma oração sacerdotal (isto é, oração feita de joelhos – João 17.1-26),
cantou um hino e saíram para o Getsêmani, onde foi para orar, durante o tempo
em que precedia a sua traição e prisão. Foi naquele lugar onde Jesus sofreu a
mais dura agonia antes da cruz. Tendo sido fortalecido, Jesus recebe a visita
esperada do traidor (Judas), tendo em companhia uma multidão de pessoas. Após
um beijo traiçoeiro, Judas indicou a vítima, aos soldados. Então, Jesus foi
preso, em seguida acusado, julgado, maltratado, escarnecido, condenado e
crucificado (Mat 26.17 ss.; Marc 14.25 ss.; Luc 22.7 ss.; 23; João 13-19).
Portanto, fica esclarecido que Jesus e Seus
discípulos não celebraram a Última Páscoa no dia oficial (que seria na noite do
dia 15), mas com «um dia de antecedência», ou seja, cerca de 24 horas
antes. E, que isto ocorreu, na noite da sexta-feira do dia 14 de Nisã (que
começou às 18h da quinta-feira, 13 de Nisã).
Os elementos
que fizeram parte da última páscoa
Quando Jesus enviou dois de Seus
discípulos (Pedro e João) para fazerem os preparativos da Páscoa, tinham eles a
seguinte missão:
Primeiro; encontrar um homem que levava um cântaro de
água e segui-lo. Normalmente quem carregava água eram as mulheres, por isso não
devia ser difícil identificar este homem (Marc 14.13).
Segundo; perguntar a ele: «O Mestre diz [eles foram
como representantes de Jesus]: Onde está o aposento em que ei de comer a Páscoa
com os meus discípulos?» (Marc 14.14,15).
Terceiro; fazer os preparativos da Páscoa,
«...preparai ali» (Marc 14.15). Os preparativos eram: «Imolar e assar o
cordeiro, providenciar pães asmos, ervas amargas, sopa de frutas, água salgada
e suco de uva (não-fermentado)».
Estes elementos que faziam parte da Páscoa judaica,
cada um tinha um significado especial.
O Cordeiro Pascal: Lembrava a proteção, o
livramento dos primogênitos da casa dos filhos de Israel, quando cada família
israelita aspergiu o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da porta. Era uma
lembrança e uma comemoração deste maravilhoso livramento (ver Êx 12).
Os Pães Asmos: Lembravam a saída urgente de
Israel da terra do Egito. Esses pães asmos também representavam a separação
entre os israelitas redimidos e o Egito. Também chamado de «pão de aflição»,
que representava os sofrimentos dos filhos de Israel (Êx 12.15,34,39, Deut
16.3).
Água Salgada: Lembrava as lágrimas
salgadas derramadas pelos israelitas durante os seus anos de escravidão no
Egito.
Ervas Amargas (hb marór):
Lembravam as amarguras da escravidão no Egito (Núm 9.11).
A Sopa de Frutas (hb charoshet):
Lembrava a massa de tijolos que os filhos de Israel tinham de preparar na terra
do Egito (Êx 5.6-19).
Quatro Cálices (copos) de Vinho: Lembravam
as «quatro promessas» de Êxodo 6.6,7.
Conforme acima mencionado, empregavam-se
«quatro cálices» de vinho misturado com água que a Bíblia nada diz. Segundo a
tradição judaica, tomam-se «quatro cálices» de vinho porque a Bíblia usa quatro
verbos diferentes para descrever o drama da redenção do cativeiro do Egito. As
quatro citações à redenção podem ser encontradas no livro de Êxodo, capítulo 6
e versículos 6 e 7.
1. E vos «tirarei» de debaixo da carga dos
egípcios.
2. E vos «livrarei» da sua servidão.
3. E vos «resgatarei» com braços estendidos e
grandes juízos.
4. E vos «tomarei» por meu povo.
A Páscoa celebrada nos dias hoje pelos judeus
sofreu alteração. Por exemplo; o sacrifício dos cordeiros se manteve enquanto o
Templo de Jerusalém existia (Deut 16.1-6). Com a sua destruição pelos romanos,
em 70 d.C., o sistema de Sacrifícios terminou e foi substituído completamente
pelos serviços de orações, que também aconteciam durante a existência do
Templo.
A Festa judaica contemporânea chamada Seder,
já não é celebrada com o cordeiro assado. Entretanto, as famílias ainda se
reúnem para a solenidade e, o pai da família narra toda a história do Êxodo,
conforme a prescrição de Yahweh (Êx 12.14,26,27). Enquanto, que para os judeus
o oferecimento de sacrifícios terminou quando os romanos destruíram o Templo de
Jerusalém em 70 d.C.; no entanto, os samaritanos continuam a oferecer todos os
anos os sacrifícios pascais no monte Gerizim, de acordo com a lei judaica.
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