Na vida, não são as aparências que enganam, como pensa o
senso comum. O que nos engana é o fato de não olharmos atentamente para as
pessoas e situações com as quais nos envolvemos; o fato de generalizarmos
nossas conclusões e a dificuldade que temos em assumir que nossas decisões e
julgamentos estão equivocados.
Prestamos menos atenção nas coisas do que deveríamos. Nosso desejo de que as
coisas sejam como gostaríamos que fossem nos apressa em nossas conclusões, por
isso nos enganamos.
Encontramos alguém que demonstra não possuir os defeitos que a pessoa anterior
possuía, e... Pronto! Já concluímos que encontramos a pessoa que estávamos
buscando, afinal, esta não possui o que nos incomodava na outra.
Ora, o fato de alguém não demonstrar determinados defeitos não significa que
não os possua. Ela pode estar se “policiando” para não os deixar transparecer,
pode ser que a situação para que eles se manifestem ainda não ocorreu, ou ela
pode, de fato, não possuir esses defeitos. Mas e quanto aos outros defeitos que
possuirá, seriam mais ou menos graves do que aqueles dos quais estávamos
fugindo?
Não encontraremos pessoas sem defeitos. Mas, o fato dela não possuir os
defeitos que a pessoa anterior possuía, não pode, por si só, nos levar a
concluir que encontramos a pessoa ideal. Não foram as aparências que nos
enganaram, fomos nós mesmos, precipitados “em preencher a vaga”.
Outra questão que causa ilusões reside em nosso hábito de generalizar as
coisas.
Muitas vezes, uma pessoa que te ama e respeita mais que a anterior, pode ser
mais tímida e reservada em suas demonstrações. O fato de alguém te dar todas as
provas de amor não significa que ela te ama, e o fato de outra, não dar tantas
demonstrações assim, não significa que não te ame. Pessoas diferentes agem de maneira
diferente. De novo, não são as aparências que nos enganam, mas o fato de
generalizarmos que quem ama deve agir da maneira que imaginamos ser a correta e
de que, na ausência dessas atitudes, a pessoa não nos ame...
Idioma sentimental
Você conhece as suas atitudes quando ama, não as do outro. Talvez o idioma
sentimental do outro seja tão diferente que vocês precisarão de um tempo para
aprender a traduzir um ao outro.
Há amores “melosos e grudentos”, que terminam com a primeira trovoada, e outros
que, aparentemente mais distantes, resistem às mais difíceis tempestades. Há
pessoas que dizem que dariam a vida por você, mas em uma situação real,
fugiriam à primeira dificuldade. E há outras que nunca te prometeram nada, mas
suportariam as dores mais profundas em nome desse amor.
Outra situação que engana mais que as aparências é o fato de que, quando
percebemos que escolhemos mal e não prestamos a devida atenção antes de
decidir, começamos a encontrar justificativas e distrações para não enfrentar a
realidade. Para fugir da dor de admitir que fomos tolos, vamos tentando fazer a
ilusão virar realidade, até o ponto onde ela se transforma em pesadelo. Aí,
exatamente aí, diremos: as aparências enganam!
Não são as aparências que enganam. Somos nós que nos enganamos porque não
queremos olhar para as coisas como elas realmente são. Preferimos nos enganar
enquanto for possível.
Perceber o quanto somos ingênuos e irresponsáveis em tantos momentos da vida
fere nossa inteligência, nosso orgulho e vaidade.
Para escapar mais uma vez desta realidade, colocamos a culpa nas aparências –
são elas que nos enganam, fulano nos enganou...
Melhor aceitar a realidade: nós nos enganamos. A fantasia parece sempre mais
convidativa que a realidade, mas seu preço é sempre mais alto!
Para enganar-se menos, dedique mais atenção, não julgue o todo pela parte e
assuma seus erros de avaliação.
Os que choram não são sempre os mais tristes. Os que riem não são sempre os
mais felizes. Os que mais falam em Deus não sempre os que O tem mais no
coração. E muitas vezes, quem te ama em silêncio é mais efetivo que aquele que
te manda flores todas as manhãs...
Antônio C.