A
igreja de Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo durante sua
segunda viagem missionária (Atos 17), contudo, segundo alguns
estudiosos, o tempo em que passou evangelizando a mencionada região foi
breve e não teria excedido um mês, pois somente três sábados são
mencionados no livro de Atos (At 17:2). Outros entendem que o apóstolo
teria passado mais tempo fazendo um trabalho fora das sinagogas, tendo
em vista que a maioria da igreja seria formada por gentios (=
não-judeus) (1 Ts 1:19 e 2:14-16), sendo esta última a corrente mais
aceita.
Com
o objetivo de consolidar o trabalho já realizado entre os
tessalonicenses para que as sementes espirituais plantadas não morressem
(1 Ts 3:5), os crentes atingissem a maturidade na vida cristã e se
tornassem verdadeiros discípulos de Cristo (1 Ts 1:6), Paulo escreve a
carta de 1 Tessalonicenses, encorajando os convertidos a viver a vida
cristã em santidade (1 Ts 3:2), nos frutos do Espírito Santo e no
serviço da obra de Deus.
A
seguir, far-se-á uma síntese de alguns princípios que a epístola
contém, os quais, se vividos por nós, transformarão a nossa vida,
levando-nos a um patamar superior de fé e consistência na vida cristã.
1- Princípios relativos ao serviço cristão:
1.1- A
importância de ganhar pessoas para Jesus não somente em Palavra, mas em
Poder do Espírito Santo e em firme convicção de fé que as conduza para o
caminho da salvação (1 Ts 1:5, 7): o cristão tem de viver uma vida
que ultrapasse a Palavra falada, atingindo um nível de intimidade com
Deus que possibilite desenvolver o fruto e os dons do Espírito Santo
para o serviço da obra do Senhor, ou seja, trata-se da importância de se
construir um bom testemunho e alcançar a essência do cristianismo, que é
o amor, para impactar vidas para o Senhor e ser sensível a voz e ao
clamor do coração de Deus pelos perdidos para os resgatar.
1.2- A importância do crescimento espiritual através da instrução contínua na Verdade:
Paulo sabia que as sementes plantadas poderiam morrer e, por isso,
escreveu a carta para consolidar e maturar o trabalho já realizado,
relembrando os crentes das verdades espirituais já ensinadas e
esclarecendo aquelas que ainda tinham que aprender para que não caíssem
no engano do inimigo (1 Ts 3:5; 5:14). As verdades espirituais precisam
ser relembradas e “inculcadas” em nossa mente e guardadas em nosso
coração a fim de que possamos praticá-las e sermos transformados pelas
mesmas (Dt 6:6-8). O apóstolo sabia que a vida cristã requer contínuo
investimento, cuidados e instrução sólida para que o discípulo de Cristo
alcançasse a maturidade e a vivência necessárias para caminhar em
santidade e abandonar os velhos ídolos e suportar as tribulações e
perseguições (1 Ts 1:6, 8). Enviou Timóteo para realizar a obra de
fortalecimento da fé (1 Ts 3:2,5). Paulo também fala da importância da
honra aos guias espirituais que realizam com desprendimento a obra do
discipulado (1 Ts 5:12-13). O discípulo de Jesus é instruído pelo corpo
de Cristo, a igreja, um corpo dinâmico, em que os diversos componentes
individuais, utilizando-se dos dons que o Espírito Santo concedeu a cada
um, edificam o todo.
1.3- O serviço cristão com empenho e dependência do Espírito Santo sempre gera discípulos para o campo da obra do Senhor:
o trabalho que Paulo fez, embora árduo e sob tribulação, mesmo sendo de
pouca duração, foi suficiente para que o Espírito Santo de Deus
formatasse discípulos que reproduziram a vida de Jesus e evangelizaram a
região da Acaia e da Macedônia, pelo que há a necessidade
de o discípulo de Jesus receber a Palavra no espírito, não como um
ensino de homens, mas abrindo o coração para receber a Verdade que
liberta e deixar que o Espírito Santo opere eficazmente (1 Ts 2:13).
Esse é o discipulado por excelência, qual seja aquele em que o discípulo
chega a um nível de maturidade em que ele consegue receber as
orientações do próprio Espírito Santo para ser conduzido nas decisões
que necessita tomar em sua vida, sendo não mais um dependente de outro
para fluir em Deus, mas interdependente com os seus semelhantes para
realizar, como servo valoroso, os objetivos do Reino de Deus.
Não
desprezo a necessidade do discipulado individual e do aconselhamento,
em que a pessoa é acompanhada individualmente a partir de suas
necessidades de crescimento específico, muito pelo contrário,
incentivo-o, entretanto, animo-me a dizer que o trabalho de discipulado é
muito mais do que isso, referindo-se a uma obra de propagação e
amadurecimento do Evangelho no coração das pessoas que envolve a
participação dinâmica de todo o corpo de Cristo, cada um utilizando seu
dom específico para que cada um e todos sejam edificados, isto é,
abrange, por exemplo, a formação de pastores e obreiros, a formação de
ministérios, a formação de profissionais liberais, de empresas privadas e
servidores públicos, etc., com a finalidade de estabelecer os
princípios do Reino de Deus nas diferentes áreas da sociedade, ou seja,
nas artes e entretenimento, na família, na mídia e na comunicação, no
governo e na política, na ciência e na educação, na economia e nos
negócios, e não só dentro da igreja (Ef 4:11-16), removendo nestas áreas
os sistemas pelos quais o mundo atua, promovendo os padrões do Senhor
(cf. GUILLEN, Fernando. Sete Montes. Belo Horizonte: Fernando Guillen, 2009, p. 23-39).
Os
ensinamentos do Apóstolo Paulo são claros em apresentar a igreja como o
corpo de Cristo, um corpo em que cada membro é dotado de dons para a
edificação de todos. Há quatro listas de dons espirituais no Novo
Testamento, em 1 Coríntios 12, Romanos 12, Efésios 4:7-12, 1 Pedro
4:10-11, contudo, nosso Senhor é um Deus de multiforme graça, não se
restringindo os dons espirituais ao rol contido nestas listas.
Veja o que diz 1 Co 12:4-7:
4
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. 5 E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade
de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. 7 A cada um,
porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum.
A
igreja é um corpo dinâmico, no qual há o desempenho de vários
ministérios com a finalidade de levar todos os cristãos a uma fé madura e
sólida, sendo o Espírito Santo o doador dos dons espirituais segundo
sua soberana vontade, havendo, portanto, uma unidade na diversidade, o
que nos leva a inferir, diante da clareza do texto acima, que nenhuma
congregação pode ficar engessada a partir de uma única metodologia de
trabalho e evangelização, devendo, em verdade, possibilitar-se a riqueza
da pluralidade e variedade dos serviços tantos quantos são os dons
espirituais. E mais, a congregação também não pode ficar engessada com a
ideia tradicional de um pastor sozinho e sobrecarregado que concentra e
desempenha todos os serviços e ministérios. O mais acertado a se dizer é
que o ministério da liderança de uma congregação é trabalhar, investir e
estimular o exercício dos dons espirituais de cada um, visando o
proveito comum, a maturidade do corpo. Neste sentido, trago a colação as
palavras de John Stott:
A
ideia tradicional que temos de uma igreja local é a de um pastor
sobrecarregado, talvez ajudado por um pequeno núcleo de colaboradores
dedicados, enquanto a maioria dos membros dá pouca ou nenhuma
contribuição à vida ou ao trabalho da igreja. Isto nos lembra mais a
imagem de um ônibus (com um motorista e muitos passageiros sonolentos)
do que a de um corpo (em que todos os membros são ativos, cada um
contribuindo com uma atividade especial para a saúde e a eficiência do
todo). Na verdade, eu não duvido de que uma falsa imagem da igreja é uma
das principais razões do crescimento do “movimento carismático”. Este
movimento é um protesto contra o clericalismo (onde obreiros de tempo
integral ocupam o espaço dos leigos), e uma tentativa de liberar os
leigos para os papéis de liderança responsável para os quais Deus os
dotou (Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 110).
E, em outra passagem, assim se manifesta:
Os
pastores são chamados para serem instrutores, e isto de forma alguma
quer dizer que eles devem reservar com ciúmes todos os ministérios que
devem ser exercidos para si. Pelo contrário, seu ministério é produzir
mais ministério, incentivando outros a exercerem os dons que Deus lhes
deu. Somente, então, o outro objetivo será alcançado, que é, novamente,
“a edificação do corpo de Cristo”, até que atinja sua unidade e
maturidade completas, a “medida da estatura da plenitude de Cristo [Ef
4:12-13] (Op. cit., p. 121).
A
diversidade dos dons e serviços, além de mostrar que a congregação não
pode ficar engessada a uma única estrutura rígida de uma metodologia de
trabalho, exorta-nos de que não podemos caminhar sozinhos, de que
precisamos um do outro e ninguém pode ser tido como descartado, até
mesmo porque os dons são fruto da graça de Deus e a graça por natureza é
inclusiva (Rm 12:6), além do que a igreja não deve ficar refém de uma
hierarquia rígida de liderança em cadeia, mas os líderes e membros devem
trabalhar em conjunto para edificar a todos com seus diferentes dons.
Ninguém pode achar que tem condições de lidar sozinho com todos os que
tiverem sob seus cuidados e tratá-los como uma propriedade particular de
seu ministério, mas ser humilde o suficiente para reconhecer que há
tipos de serviço que não pode desempenhar e precisará de outras pessoas
para ajudá-lo, visando o bem comum. Hoje, a necessidade mais urgente de
alguém requer que essa pessoa seja trabalhada por uma pessoa com um
determinado tipo de dom, mas, amanhã, a pessoa pode e deve amadurecer e
talvez precise ser trabalhada por outra pessoa com outro tipo de dom,
tudo segundo o propósito que Deus tem para aquela vida e, assim, o
Senhor vai levantando as pessoas para atuar de maneira multiforme, tendo
em vista a existência de múltiplas necessidades e o aperfeiçoamento do
corpo, de modo que acabamos sendo e, em verdade, devemos ser “ajudantes
temporários do Espírito Santo” na vida das pessoas, até mesmo porque é
com ciúmes que o Espírito de Deus anseia em ter comunhão conosco (Tg
4:5). Não somos donos de ninguém, apenas instrumentos do Espírito Santo
para edificar e amadurecer o corpo e suprir uma necessidade específica,
segundo os decretos de Deus, que distribui os dons da maneira que lhe
apraz.
No
que tange ao desempenho do serviço do Senhor, a Palavra também nos diz
que devemos buscar com zelo os melhores dons (1 Co 12:31). E quais são
os melhores dons? Qual o critério para dizer quais são os melhores dons?
A própria palavra responde: “Assim também vós, já que estais desejosos
de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja”
(1 Co 14:12 - ARC). Os melhores dons são aqueles que mais edificam,
dentre os quais posso citar o amor acima de todos, a profecia e os dons
de ensino (cf. STOTT. Op cit., p. 117).
Paulo
dava uma ênfase ao culto inteligível para todos e criticava o uso
infantil do dom de línguas na congregação da igreja de Corinto (1 Co
14), bem como vemos uma grande preocupação do apóstolo por todas as suas
cartas na questão do ensino da Palavra como algo fundamental para que o
corpo de Cristo se desenvolvesse de forma sadia. Moisés também tinha
esta preocupação, pelo que disse:
E
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as
ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando
pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal
na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás
nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas (Dt 6:6-9 - ARC).
E
o que dizer de Jesus que ensinava de forma simples e, ao mesmo tempo,
profunda com as suas parábolas, atitudes e milagres, os quais eram
verdadeiras parábolas dramatizadas que traziam as essências do Reino de
Deus para o coração das pessoas.
O
ensino deve ser um dos grandes pilares de uma congregação, sendo que,
nos dias de hoje, pela falta ou insuficiência de instrução, o corpo de
Cristo fica subnutrido e decadente, proliferando-se todos os tipos de
desvio e heresia no meio da igreja, bem como a falta de solidez e
maturidade na fé das pessoas, de modo que elas possam discernir as
coisas através da Palavra e somente reter o que é bom (1 Ts 5:20-21).
A
profecia também é um dos melhores dons, segundo 1 Co 14. Não pode
faltar em uma congregação a genuína profecia que edifica o corpo como um
todo, a qual Abraão Kuyper assim expõe: “Por profecia, Paulo entendeu
pregação inspirada, em que o pregador se sente ungido e impulsionado
pelo Espírito Santo” (citado por STOTT. Op cit.,
p. 106). A palavra nos exorta a não desprezarmos as profecias, mas
devemos pô-las à prova, retendo apenas o que é bom (1 Ts 5:20-21).
Animo-me
também a dizer que temos de anelar e interceder para que Deus nos
capacite com os dons de cura. Em 1 Co 12:9, o apóstolo Paulo fala em
“dons de cura” no plural, o que significa que quando se fala de cura,
não se refere apenas a cura do físico, mas também a cura do espiritual e
do psicológico, das emoções, das memórias penosas, dos traumas, das
raízes de amargura e de todas as doenças psicossomáticas que delas
advém, tais como os transtornos de ansiedade, a depressão, entre outros.
Hoje, muitas pessoas necessitam de um nível de cura profunda em virtude
dos relacionamentos partidos, disfuncionais e destrutivos, bem como de
todo tipo de abuso, seja ele verbal, físico ou sexual, que provém da
destruição e desagregação das famílias, o que causa uma série de
deformidades na personalidade e emoções do ser humano. Temos que orar ao
Espírito de Deus para que nos capacite com conhecimento e sabedoria
para poder ajudar as pessoas de forma adequada, bem como preparar
pessoas com esse ofício específico, tais como psicólogos, conselheiros,
psiquiatras, obreiros para sarar essas pessoas nesse processo de perdão e
cura, que, no fundo, nada mais é do que a renovação da mente por
excelência (Rm 12:1-2). Bem como, temos de acreditar no poder da
confissão dos pecados e da oração do justo nesse processo de cura:
“Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos
outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do
justo” (Tg 5:16) (neste sentido, pode-se consultar o excelentes
trabalhos de David Seamands, tais como A cura das memórias. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007; A cura para os traumas emocionais. Venda Nova: Betânia, 1984; O poder curador da graça. São Paulo: Vida, 2006, bem como os trabalhos de Leanne Payne, principalmente o livro Imagens partidas.
São Paulo: SEPAL, 2001). Em intimidade com o Espírito Santo em oração,
enquanto ministramos a outra pessoa em nome de Jesus e, enquanto o
ouvimos, ele nos dá a “palavra da sabedoria”, a “palavra do
conhecimento”, o “discernimento de espíritos”, bem como a fé
sobrenatural e tudo o que é necessário para ver a pessoa sarada,
purificada e liberta (cf. PAYNE. Imagens partidas,
p. 179). Somente o Espírito Santo pode nos capacitar para manifestar a
glória de Deus nesse nível de cura e, para isso, precisamos não só
acreditar que Ele pode operar prodígios e maravilhas, mas também
depender dEle.
2- Princípios relativos à intercessão:
2.1- A obra de gerar discípulos para Cristo não pode ser desacompanhada de oração incessante, persistente.
É papel da igreja como um corpo dinâmico, não só de um discipulador,
líder ou conselheiro de forma isolada, de um ministério de intercessão,
mas de todo o corpo de Cristo no sentido de fazer o discípulo de Jesus e
todo o corpo de Cristo e suas necessidades lembradas diante do Trono do
Senhor para que ganhemos no espiritual a concretização da obra de Deus
no caráter do discípulo de Jesus (1 Ts 1:2-3), bem como exercendo os
dons e serviços, sob a dependência do Espírito Santo, para atingirmos
esse fim.
Que
a igreja do Senhor possa anelar e interceder para que o Espírito Santo
faça essa obra em nós, capacitando-nos para romper a barreira da
incredulidade e mergulhar no que o Senhor quer fazer especificamente em
cada congregação, capacitando-a com os dons e serviços que Ele
soberanamente quer conceder e sob sua dependência. E aí, atrevo-me a
dizer que a igreja nos dias de hoje tem dificuldade em compatibilizar a
sua “teologia” e práticas com a grande verdade da soberania de Deus e as
estratégias de trabalho e evangelização destas congregações acabam
sendo “meros eventos” que tentam tapar a glória de Deus, da mesma forma
que alguém tenta tapar o sol com a peneira.
2.2- A obra de Deus sempre enfrenta a oposição de satanás (1 Ts 2:18), daí a necessidade da intercessão
a fim de que conquistemos a vitória e continuemos edificando o corpo de
Cristo na terra, suprindo as necessidades dos crentes, sobretudo as
espirituais (1 Ts 3:10).
3- Princípios relativos à liderança:
3.1- A liderança é uma obra de encorajamento do discípulo para que este chegue a um nível de maturidade do caráter de Cristo.
Discipulado não é uma obra de dominação ou manipulação, realizada com a
imposição de medo, ameaças ou punições para que os liderados façam o
que queremos, mas uma obra em que somos canais da graça do Senhor para
que o crente encontre a liberdade e verdadeira alegria de ser filho de
Deus e tenha sua fé fortalecida (1 Ts 3:2). Liderança é a “habilidade de
influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir
aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER, James
C. O Monge e o Executivo. Rio
de Janeiro: Sextante, 2004, p. 25). Influenciamos discípulos para
Cristo, dando um bom testemunho de poder e vida de Deus, assim como o
apóstolo Paulo (1 Ts 2:9-10).
3.2- O trabalho da liderança requer as características do amor de Jesus:
paciência (1 Ts 5:14), bondade (1 Ts 5:15), humildade, respeito para
com as pessoas, abnegação (= olhar os outros a partir das necessidades
específicas delas de forma desinteressada e desprendida) (1 Ts 2:7-11),
perdão, honestidade (= transparência), compromisso (1 Ts 2:9), coragem
(1 Ts 2:2) (obs: para aprofundar o tema do amor e a liderança, consultar
HUNTER, James C. Op. cit., p. 72-96).
3.3- A liderança não visa agradar a homens, mas a Deus
(1 Ts 2:4-6). Temos que nos libertar do vício de agradar a todos,
reforçando a nossa identidade em Deus para que possamos depender
integralmente dEle em espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23-24). Temos de
mudar a nossa autoimagem (= o conceito que temos de nós mesmos em nossa
mente e no nosso coração) para que o nosso valor como pessoa não dependa
da opinião dos outros, mas da Verdade que Deus fala a nosso respeito.
Isso nos liberta do sistema de valor com base no mérito (= se acerto e
dou fruto, sou valioso; se erro, falho, peco, sou desvalioso; essa
é uma mentira fabricada no quinto dos infernos, mas que infelizmente
condiciona e aprisiona a mente de muitos), do chamado “evangelho do
desempenho” e nos deixa livre para experimentar a liberdade da graça de
Deus.
3.4- Liderar é servir e não ser servido
(1 Ts 2:2, 8-9). A liderança não é um privilégio, mas um encargo, um
dever. Liderança não é um privilégio de ostentar um título, de ser
tratado como um “marajá espiritual”, mas de desempenhar dons e
ministérios para a edificação, em amor e verdade, da igreja, levando-a
para a maturidade.
4- Princípios de vida cristã:
4.1- Ter identidade em Cristo, reproduzindo em nossas vidas as virtudes de Deus (1 Ts 1:6), ou seja, crescer no fruto do Espírito.
4.2- As
dificuldades (= tribulações) são parte essencial da vida com Deus e Ele
as usa para provar e aprovar a nossa fé, para que possamos cumprir a
nossa missão de trazer os valores do Reino de Deus, fazendo discípulos
para Cristo (1 Ts 2:1, 4 e 3:3).
4.3- A força da tribulação é quebrada pela alegria sobrenatural que o Espírito Santo produz em nós como fruto (1 Ts 1:7).
4.4- A necessidade de um comportamento santo, reto, inclusive livre das imoralidades sexuais (1 Ts 4:1-8).
4.5- O mandamento do amor (1 Ts 4:9-10).
4.6- Deus quer que tenhamos uma mente purificada, livre de culpa
(1 Ts 3:13): fala da necessidade de receber o perdão de Deus em nosso
coração e não deixar que os erros do nosso passado determinem a nossa
caminhada presente e futura. Se Deus nos perdoou, ninguém, nem mesmo nós
mesmos, pode nos condenar. Temos de receber o perdão de Deus e nos
perdoar e caminhar na liberdade que o Espírito Santo quer nos conceder.
4.7- Deus quer que vigiemos para que não caiamos em pecado e na obra do Tentador (1 Ts 3:5 e 5:6).
4.8- Deus
quer façamos uso da armadura espiritual que Ele nos concede para que
possamos prosseguir na vida cristã em união com Cristo e herdar a
salvação (1 Ts 5:8-11).
4.9- Diversos deveres: 1 Ts 5:12-28:
12
Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós,
presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais em
grande estima e amor, por causa da sua obras. Tende paz entre vós. 14
Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados,
consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para
com todos. 15 Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre
o bem, uns para com os outros, e para com todos. 16 Regozijai-vos
sempre. 17 Orai sem cessar. 18 Em tudo dai graças; porque esta é a
vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. 19 Não extingais o
Espírito; 20 não desprezeis as profecias, 21 mas ponde tudo à prova.
Retende o que é bom; 22 Abstende-vos de toda espécie de mal. 23 E o
próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e
alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo. 24 Fiel é o que vos chama, e ele também o
fará. 25 Irmãos, orai por nós. 26 Saudai a todos os irmãos com ósculo
santo. 27 Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os
irmãos. 28 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
5- Princípios de escatologia (= doutrina das últimas coisas): “A ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos” (1 Ts 4:13-18) e “O Dia do Senhor” (1 Ts 5:1-11).
Tanto
o ensino do Velho Testamento, quanto o do Novo Testamento, são muito
claros quanto à existência do chamado “Dia do Senhor”, um dia em que
Deus virá para julgar vivos e mortos, um dia que marcará a separação do
trigo e do joio, dos crentes e dos incrédulos, dos salvos em Cristo e
dos não salvos, um dia que marcará o fim da velha criação e o início da
nova criação redimida em Cristo e também do cumprimento da pena já
imposta contra satanás e seus anjos, bem como o castigo eterno dos
incrédulos. Este ensino é uma verdade central do Evangelho de Jesus, a
respeito de seu retorno, de sua segunda vinda, como uma das etapas da
concretização da obra já conquistada e consumada na cruz, o que requer
de nós preparação e vigilância para que não sejamos pegos de surpresa (1
Ts 5:6-11).
A
ponderação que se pode fazer quanto aos dias de hoje é que o
“evangelho” em grande parte propagado é “manco”, uma vez que pouco se
fala na segunda vinda de Cristo, uma verdade fundamental esquecida e
negligenciada. Vive-se como se este fato nunca fosse se consumar ou
então que acontecerá em um tempo muito distante, passando-se em grande
parte a se propagar um “evangelho” que visa satisfazer as necessidades
imediatas dos homens aqui na Terra, em que tudo é canalizado para trazer
prosperidade material ao homem aqui e agora.
Mesmo
naquelas congregações em que não há uma ênfase desesperada na
prosperidade material, parece que se vive, em grande parte, um evangelho
“triunfalista”, preso e engessado com as ideias de crescimento numérico
da igreja, como se isso fosse um sinal de avivamento, ignorando-se por
completo os sinais que antecedem a vinda de Jesus.
O
ensino do retorno de Jesus e da ressurreição dos mortos para
julgamento, como já dito, é uma verdade essencial, é algo concreto que
deve ser acolhido como objeto de fé e que exige de nós uma resposta
madura no sentido de sermos sóbrios, vigilantes, constantes de caráter
nas verdades do Evangelho, perseverantes em cuidar com zelo e amor do
nosso relacionamento com Deus, trazendo sobre nós a necessidade de nos
examinarmos a nós mesmos constantemente, levando-nos ao arrependimento
do que for necessário.
Este
ensino requer também de nós uma fé madura no sentido de que não devemos
canalizar os nossos esforços nas coisas e nos prazeres deste mundo, mas
que a nossa mentalidade deve se afinar com os valores e o tempo da
eternidade.
Exige-se
de nós o discernimento dos tempos nos quais vivemos. As profecias
bíblicas a respeito dos últimos tempos estão se cumprindo e não podemos
ser alheios a isto. O amor de muitos está se esfriando por causa da
multiplicação da iniquidade (Mt 25:12), os falsos mestres estão se
multiplicando com as suas falsas doutrinas, as guerras, as catástrofes e
a cada dia as marcas do anticristo serão mais evidentes (obs: para
aprofundar este tema, leia 2 Tessalonicenses).
Por
fim, esta doutrina deve trazer ao nosso coração um grande consolo no
sentido de que um dia viveremos uma vida de comunhão plena com Deus em
um novo corpo glorificado e livre para sempre das torturas do pecado e
da separação que ele provoca.
Que
a cada dia, leitor, você possa ser sóbrio e vigilante, sendo edificado
pela verdade que liberta, provando as profecias, apenas retendo o que é
bom, sendo capacitado e consolado pelo Espírito Santo de Deus para
semear e colher uma fé madura, bem como desempenhando os dons e
ministério que o Senhor na sua soberana graça quer lhe conceder.
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